sexta-feira, 26 de abril de 2013

Debate Unipop - Abril e Abrileiros


Em 2004, na passagem do 30.º aniversário do 25 de Abril, o slogan das comemorações oficiais, «Abril é Evolução», que suprimia a letra mais importante da Revolução, gerou o protesto generalizado contra aquilo que justamente se designava por revisionismo e, em certo sentido, por branqueamento do fascismo. A carga ideológica da substituição de Revolução por Evolução era por demais evidente. Não se tratava apenas, como então se afirmava, de uma bem-intencionada adaptação da memória de Abril aos tempos que passavam, mas de uma tentativa de reconstrução simbólica que passava pela remissão de palavras, símbolos, sons, imagens para um tempo histórico irremediavelmente ultrapassado.

Ora, essa ofensiva ideológica atingia o centro daquilo a que eventualmente poderíamos chamar a «cultura de Abril», ou o «abrilismo», ou seja, a reprodução de toda uma miríade de instrumentos simbólicos associados à afirmação e à comemoração da revolução – das canções de Zeca Afonso à poesia que ocupa a rua, de Vieira da Silva, passando pelo cravo na mão ou pelo chaimite que encabeça o desfile popular. Se é certo que o recurso a esses instrumentos foi ganhando um carácter essencialmente defensivo – a «defesa das conquistas de Abril» –, é também claro que reflete uma determinada visão do mundo, da ideia de revolução e da intervenção política.

Hoje, quase quatro décadas após a revolução, a distância geracional parece ter imposto a coexistência da «cultura de Abril» com um conjunto de outras referências políticas, culturais e simbólicas que, embora assumindo a Revolução de Abril na sua arqueologia, acabam por ter, tal como sucedia com o slogan de 2004 – em sentido oposto, é certo –, um papel de desconstrução dessa mesma cultura.

Para este debate convidámos:
Pedro Rodrigues (músico)
Joana Lopes (responsável pelo blog Entre as brumas da memória)
Hoje, às 18h, no Ministério

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